Faltam dois meses para as eleições presidenciais americanas mais imprevisíveis das últimas décadas. É a terceira vez, num século, que o presidente em exercício não se recandidata a um segundo mandato. Trump foi condenado por 37 crimes, acusado por abuso sexual e está largamente envolvido no ataque ao Capitólio, cujos autores diz perdoar se for Presidente. Um segundo mandato seria marcado pelo revanchismo. E teria tudo para reconfigurar ainda mais o partido republicano, as relações de poder a nível estadual e da própria democracia americana. A vice de Biden, Kamala Harris, avançou pelo terreno minado que lhe foi deixado. Em poucas semanas, com um vigor e energia que poucos esperavam, deu a volta ao guião derrotado e derrotista dos democratas. A outra face desta moeda é que a energia democrata está alicerçada na ausência de uma plataforma política. Uma decisão que parece propositada, talvez temendo o desfecho que teve a campanha programática de Hillary Clinton. Pode uma candidatura centrista e moderada perder para um condenado, pro-russo e que antecipa um “banho de sangue” se não lhe oferecerem a vitória? Pode. Para tentarmos perceber este grande mistério americano recebemos Bernardo Pires de Lima, investigador associado do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, analista de política internacional da RTP e da Antena 1, e presidente do Conselho de Curadores da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.
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